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O que as franquias ganham se 'fintechizarem' a operação?

Levar o banco para o varejo ou serviço pode ser estratégico para empresas maduras

O que as franquias ganham se 'fintechizarem' a operação?
Isis Brum Publicado em 11 de Junho de 2025 às, 08h00. Atualizado em 11 de Junho de 2025 às, 08h00.

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O setor de franquias tem buscado novas formas de ganhar eficiência, reduzir custos e ampliar o controle sobre suas operações. Wagner Moraes, CEO da A&S Partners, empresa que atua como venture builder em projetos de transformação financeira para redes franqueadas, acredita que a fintechização das redes seja a resposta para responder à busca do setor.

Se o banco virou varejo e o varejo virou banco, as franquias podem absorver essa tendência, com planejamento e intenção, gerando ganhos relevantes tanto para os franqueados quanto para o consumidor final, uma vez que traz para dentro de casa contas digitais, meios de pagamento exclusivos e até linha de créditos internas, sem as perdas de margens usuais quando a relação é firmada com os bancos.

“Quando a franquia cria sua própria estrutura financeira, ela passa a ocupar o espaço que antes era dos bancos. E isso muda completamente o jogo”, afirma, Moraes.

Eficiência e controle na operação

Na prática, ao oferecer contas digitais a franqueados e clientes, a rede ganha acesso a uma série de dados comportamentais, que ajudam na personalização de ofertas, fidelização e até na concessão de crédito. Para o franqueado, a integração de serviços financeiros ao sistema de gestão traz ganho de agilidade e clareza na operação. “Tudo acontece num só ambiente, com menos retrabalho e muito mais transparência”, diz o executivo.

Além disso, há promessas de economia. Ao eliminar intermediários financeiros, como adquirentes e bancos, as redes podem reduzir taxas operacionais e criar campanhas de fidelização como cashback, programas de pontos e até cartões personalizados, tudo sob a bandeira da própria marca. Segundo o CEO da A&S, essa verticalização “traz ganho de margem, maior controle da operação e reforço da identidade da marca”.

Redução de custos ou só redistribuição?

Apesar dos argumentos, é importante considerar que montar uma estrutura financeira não é simples — nem barato. Requer investimento em tecnologia, compliance, segurança de dados e, muitas vezes, parcerias com instituições reguladas. A economia prometida com a eliminação de intermediários precisa ser comparada aos custos de implantação e manutenção dessa estrutura. Nem toda rede, especialmente as menores, tem escala ou recursos para viabilizar um projeto do tipo com segurança.

Por outro lado, Moraes aponta que o uso de tecnologia e automação reduz a necessidade de grandes equipes e agiliza processos como conciliação, cobrança e pagamentos. Isso, segundo ele, gera um “ganho de inteligência operacional e liberdade estratégica” que vai além da simples economia financeira.

Crédito sob medida e expansão

Uma das promessas mais atrativas da fintechização é a possibilidade de a rede operar linhas de crédito próprias. Isso permitiria, por exemplo, oferecer capital de giro com taxas mais baixas e prazos mais adequados, já que a franqueadora conhece o desempenho de cada unidade. “É um divisor de águas para redes que querem crescer de forma sustentável”, defende Moraes.

Essa abordagem pode facilitar investimentos em expansão e retenção de franqueados qualificados. A lógica é semelhante a de um banco que conhece profundamente o seu cliente — com a diferença de que a franqueadora tem acesso a dados operacionais em tempo real. Segundo Moraes, esse modelo “ajuda a reter bons franqueados, que sabem que terão suporte nos momentos em que mais precisam”.

Ainda assim, é preciso cautela. O risco de inadimplência persiste, e assumir esse papel requer uma governança madura, análise criteriosa e preparo para lidar com situações adversas. Em certos casos, terceirizar o risco pode continuar sendo uma escolha mais segura.

Ferramenta de fidelização 

Além dos ganhos internos, a fintechização também é apresentada como uma estratégia de relacionamento com o consumidor final. Ao oferecer carteiras digitais, cartões da marca ou programas de pontos, a franquia se torna mais presente no dia a dia do cliente. “Ela deixa de ser apenas o ponto de venda e passa a ocupar um espaço maior na jornada do consumidor”, afirma o executivo.

Isso abre espaço para ações mais personalizadas, como ofertas segmentadas com base em comportamento de compra, além de novos modelos de consumo, como assinaturas. O cliente, por sua vez, se vê inserido em um ecossistema completo — o que pode aumentar a lealdade à marca.

Casos práticos

A A&S Partners afirma ter implementado esse tipo de solução em grandes redes nacionais dos setores de joias e clínicas. Em um dos projetos, foi criada uma plataforma financeira fechada, com contas digitais para clientes e franqueados, crédito baseado em comportamento real de consumo e um arranjo próprio de cartões. Em outro, o crédito foi integrado à jornada do paciente em clínicas de saúde, com aprovação digital e financiamento direto no ponto de atendimento.

Segundo Moraes, em ambos os casos, a fintechização se tornou parte da estratégia de crescimento e fidelização, não apenas uma ferramenta financeira. “Atualmente temos sido procurados por diversas redes de franquias de grande porte e em diversos segmentos com esse objetivo: capturar valor e rentabilizar mais seu ecossistema.”

Vale para todas as franquias?

Apesar das promessas, a fintechização não deve ser tratada como uma solução universal. Cada rede precisa avaliar sua maturidade operacional, base tecnológica, estrutura de governança e objetivos estratégicos antes de embarcar nesse tipo de projeto.

Para algumas franquias, pode ser um passo natural e até necessário. Para outras, pode representar um risco desnecessário ou um investimento desproporcional. Como toda inovação, o segredo está na análise criteriosa depois de se encantar.

Imagem: Canva

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