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il Sordo traz para São Paulo gelatos premium em modelo de franquia inclusiva

Surdo de nascimento, Breno Oliveira, fundador do negócio, incentiva a contratação de pessoas com deficiência auditiva

il Sordo traz para São Paulo gelatos premium em modelo de franquia inclusiva
Isis Brum Publicado em 24 de Junho de 2025 às, 08h00. Atualizado em 24 de Junho de 2025 às, 12h57.

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Para escrever a respeito da franquia de gelatos il Sordo é preciso contar uma breve história sobre quebra de paradigmas e mudança de mentalidade. Breno Oliveira, fundador do negócio, nasceu surdo. Desde o primeiro dia de vida, enfrenta os desafios impostos por um mundo ainda despreparado para a diversidade e a inclusão. Teve dificuldades para se comunicar, para se instruir e para trabalhar.

O primeiro emprego foi de professor de Língua Brasileira de Sinais (Libras) em uma instituição de Aracaju, capital de Sergipe, onde vive com a mulher e o filho. Ficou desempregado após um corte de verbas e sentiu na pele as dificuldades de se recolocar no mercado de trabalho, especialmente, por sua condição. 

Foi nesse momento que decidiu empreender. Se as empresas não o contratavam, pensou: por que não poderia ser ele o empresário?. A ideia inicial era modesta: investir em um carrinho de sorvete. Afinal, esse costuma ser o “lugar possível” para muitos que nascem "fora do padrão". 

Mas o garoto sonhou maior. Com o apoio dos pais, viajou para conhecer algumas oportunidades e se deparou com um curso de fabricação de gelatos com técnica italiana. Ficou encantado com o processo e decidiu abrir uma gelateria, a il Sordo, com o compromisso de comercializar produtos de qualidade e promover a inclusão real de pessoas portadoras de deficiência auditiva.

"Quando quis ser empresário procurei muito por pessoas surdas no mundo dos negócios, e descobri que quase não existiam", conta Oliveira em respostas por escrito ao portal Sua Franquia. "Então, me veio o desafio de fazer o contrário: afirmar na empresa a minha identidade, como surdo que sou. Por isso, botei esse nome [Il Sordo] e registrei a  marca no Inpi [Instituto Nacional da Propriedade Industrial], porque eu queria que as pessoas soubessem o que era a pessoa surda, como é a Libras, como é a cultura surda. Meus amigos surdos tinham dificuldade de encontrar trabalho, mas, falando em Libras com eles, eu sabia que poderiam ser profissionais competentes e capazes", explica.

O Surdo

A gelateria il Sordo, que significa "O Surdo" em italiano, carrega no nome a identidade e o propósito do fundador. E dar vida a um negócio com essas características gerou apreensão entre pessoas próximas, que desconfiavam que os clientes não entenderiam a proposta.

Oliveira preferiu confiar na intuição e testar. “Comecei bem pequeno, testando a comunicação com recursos visuais, oferecendo provinha de gelato com gestos, e percebi que era fácil ter um atendimento humanizado, que os clientes se esforçavam para compreender também", relata. 

Com o tempo, o que era dúvida virou diferencial. Os atendimentos passaram a ser elogiados pelos clientes e se tornaram parte da experiência. Para o fundador da marca, o modelo do negócio estimula clientes e atendentes a se olharem nos olhos e a buscar uma melhor comunicação visual. "É fácil sorrir para o outro e entender tudo que está sendo feito. Esta empatia é a base do atendimento", pontua Oliveira. 

O produto é um destaque à parte. A il Sordo oferece gelatos artesanais, cremosos, com ingredientes naturais e sabores autorais, muitos deles inspirados na cultura nordestina, com frutas da região e ingredientes típicos. Para que todas as pessoas possam saborear o sorvete, há opções sem lactose e zero açúcar. 

A empresa também investe em estrutura e suporte para os colaboradores, pois toda a unidade é pensada para funcionar sem som e com muita eficiência. As máquinas foram adaptadas para emitir sinais luminosos, as campainhas são visuais e o atendimento por WhatsApp é feito exclusivamente por escrito - nada de áudios ou ligações. O cardápio é visual e intuitivo, há roteiros que orientam a interação com o cliente e a equipe é treinada para oferecer um atendimento acessível: sem palavras, porém, cheio de conexão.

A contratação não exige que o candidato seja surdo. Contudo, a maioria da equipe naturalmente é portadora de deficiência auditiva, reflexo do desejo do empresário de oferecer oportunidades para pessoas que, como ele, enfrentam os desafios do mercado de trabalho tradicional. “Organizamos toda a operação para funcionar de forma visual. Falamos em Libras, estimulamos o uso do português escrito e, principalmente, não discriminamos ninguém”, pontua.

Expansão

O projeto começou pequeno, em Aracaju, com apoio da família. Hoje, já são três unidades na capital sergipana, com 15 funcionários ao todo. Antes da pandemia, um amigo da Bahia se interessou pela marca e se tornou o primeiro franqueado. 

Depois, chegaram empresários de São Paulo. A unidade, inaugurada há pouco mais de um ano, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista, nasceu dessa nova parceria, e lá a equipe inteira é formada por profissionais surdos. A loja funciona em frente ao Instituto Tomie Otake, na Rua Coropé, 57. 

Perfil do franqueado

Para fazer parte do negócio e se tornar um franqueado da il Sordo, é preciso mais que capital para investir. Para Bruno Oliveira, o importante é manter o alinhamento com o propósito da marca, mesmo que o empreendedor não tenha nenhuma deficiência auditiva. “O requisito básico é compreender e aceitar esse vínculo com a cultura surda, mesmo que o investidor não seja”, define.

O empresário ressalta que não se trata apenas de replicar um modelo de loja. “Os investidores precisam se engajar com a ideia, querer conviver com a inclusão. É um desafio, mas é possível adaptar o modelo de negócio às necessidades de cada franqueado”, aposta.

Em síntese, quem pode ser um franqueado il Sordo? A resposta é simples: quem estiver disposto a entender, respeitar e a valorizar a inclusão. 
“Nosso critério é propósito. É isso que sustenta o modelo”, reforça.

Depois de aprender que não há limites para sonhar e realizar, o CEO da il Sordo imagina que a experiência da gelateria poderá ganhar o mundo, já que se tornou a maior organização empresarial de surdos. “A inclusão é possível e necessária, inclusive, no mundo dos negócios”, conclui.

Imagens: Divulgação

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