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Dia da Consciência Negra: Os desafios do empreendedorismo feminino e negro

Por Vera Araújo*

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Mulher, preta, divorciada. Estas poderiam ser algumas características limitantes, de acordo com nossa sociedade, especialmente há quase 30 anos quando comecei minha carreira em um setor predominantemente masculino: a Gastronomia.

Formada em Relações Públicas, tive oportunidade de trabalhar no setor administrativo de um restaurante diferenciado, o Vinheria Percussi, e lá me desenvolvi, trabalhei em buffet e outros estabelecimentos. Anos depois me tornei docente universitária, me tornando referência na área de gestão e hoje sou empreendedora na VA Gestão de Negócios – uma consultoria 360º para negócios de Alimentos e Bebidas.

Ao longo da minha carreira, percebia a surpresa das pessoas quando eu chegava e viam que eu era uma mulher preta. No começo não tinha tanta noção da violência do racismo e do machismo no nosso país e, consequentemente, no setor. Eu cresci no período do mito da “democracia racial brasileira”. Havia ao menos pudor em se expressar e atuar de maneira tão violenta. O confronto com essas posturas passou a ficar mais expresso e transparente para mim a partir do momento em que eu fui crescendo profissionalmente e assumindo cargos de liderança. Hoje, reconheço em meus ex-gestores atitudes antirracistas e até consciência maior que a minha da sociedade em que eu vivia.

Precisei investir em mim, em conhecimento formal, reforçar minha autoconfiança no meu trabalho e entender o meu valor como pessoa e profissional para me posicionar e alcançar meus objetivos. Como me disse uma assistente que à época trabalhava comigo: eu era uma águia que achava que era galinha.

Hoje, o racismo e a misoginia no setor são claros - consequência de uma parte da sociedade que não conseguiu mais se esconder, mas a participação feminina neste mercado tem aumentado constantemente e vemos mulheres incríveis à frente de restaurantes, comandando a cozinha, ganhando prêmios. Mulheres que investem, que comandam negócios, que se destacam.

Conhecemos mulheres pretas que se tornaram referência. Importante citar a chef Benê Ricardo - primeira preta a se formar em gastronomia - e tantas outras que hoje, além de destacar o protagonismo feminino, também demonstram e confirmam que não há raça quando há oportunidade e equidade. O que existe são: competência e compromisso.

Na área da gestão especializada, como meu caso, ainda não temos tantos destaques e é até engraçado, para não dizer trágico, o enfrentamento que ainda vivo algumas vezes com quem me contrata e “se surpreende” com minha competência e segurança na execução daquilo que sei fazer. Não foram poucas as vezes que tive que repetir: “Eu sei fazer o que faço e o faço muito bem!”.

Me recuso a ter que mostrar para o mundo que somos capazes, pois, contaram para gente que mulher é frágil para enfrentar o dia a dia da cozinha, que não têm sabedoria suficiente para gerir negócios. Simplesmente somos capazes e precisamos usar essa consciência do machismo e do racismo estrutural para contrapor, com atuação e representatividade!

Disseram também que a mulher preta só presta para servir – servir significa estar a favor de algo ou alguém. Então, vamos servir, sim. Mas vamos servir a nós mesmas antes de tudo, servir à sociedade com nossa inteligência e astúcia e servir nossos clientes com excelência!

Como uma mulher, preta e empreendedora eu comemoro o Dia do Empreendedorismo Feminino (19 de novembro) e celebro o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) com a certeza de que estamos todas unidas para demonstrar e dominar o mercado, deixando nossas marcas e deixando um legado para aquelas mulheres que virão depois de nós. 

Vera

*Vera Araújo é especialista em gestão de negócios de gastronomia, consultora e proprietária da VA Gestão de Negócios.

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