A Cacau Show não é apenas uma marca de chocolates. Quem mergulha mais profundamente na história do empreendimento se depara com uma das mais significativas jornadas do empreendedorismo brasileiro. Fundada por Alexandre Costa aos 17 anos, a empresa transformou-se em um verdadeiro ecossistema que vai muito além do varejo.
Como o próprio fundador sintetizou: “Os primeiros 35 anos foram sobre cacau. Os próximos 35 serão também sobre show”. Essa visão ousada impulsionou a marca a explorar novos territórios, como hoteis, parques temáticos, projetos sociais, experiências sensoriais e até colaborações inusitadas com o segmento de moda.
As lojas físicas passaram da venda de produtos para espaços instagramáveis, consumo de produtos licenciados e experiências imersivas. A marca tornou-se um símbolo de inovação no franchising brasileiro, conectando propósito, criatividade e expansão acelerada. É uma jornada que começa com o cacau e se transforma em espetáculo — literalmente.
Páscoa de 1988
A Cacau Show começou na Páscoa de 1988. Quando Alexandre Tadeu da Costa, um rapaz com 17 anos de idade, filho de pai tecelão e mãe vendedora de produtos de beleza em domicílio, resolveu revender chocolates.
O rapaz conseguiu uma encomenda de 2 mil ovos de 50 gramas e sua maior surpresa, ao chegar com o pedido na fábrica, foi que não havia possibilidade de produzir os produtos com aquele peso. Para honrar o compromisso assumido, resolveu produzir os ovos por conta própria, comprou a matéria-prima e contratou uma senhora que fazia chocolate caseiro. Após três dias, com jornadas de trabalho de 18 horas, o pedido foi entregue.
Depois da experiência, o jovem empreendedor percebeu que havia um mercado ainda pouco explorado de chocolates artesanais e resolveu investir nisso. O lucro da primeira encomenda, aproximadamente US$ 500, foi o capital inicial para Costa criar a Cacau Show. Na época, o empreendimento se estabeleceu em uma sala na empresa dos pais, no bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo. Porém, logo depois passou a pagar aluguel pelo espaço.
Costa se orgulha em dizer que, durante toda a história da empresa, em nenhum momento, contou com capital externo ou empréstimos bancários. Nessa época, o processo de produção era bem precário: ele e um amigo produziam e saíam vendendo as guloseimas em padarias, contando também com a ajuda de revendedores.
Porém, foi preciso mudar a estrutura de distribuição, pois, para o tipo e o custo do produto vendido, o sistema de comissões e prazos de pagamento habituais tornavam o negócio inviável. Foi nesta época que Alexandre optou por atender diretamente a pequenos pontos de venda, como bares e lanchonetes, sem contar com a intermediação de atacadistas ou distribuidores.
A experiência de sair vendendo pessoalmente, de loja em loja, foi considerada insubstituível pelo empresário, pois graças a ela, hoje ele sabe exatamente como se vende, conhece profundamente o mercado e o perfil dos compradores, as dificuldades e oportunidades encontradas, podendo, portanto, preparar seus vendedores da melhor maneira para o dia a dia nas ruas.
Além de vender o produto, buscou também informações técnicas: como fabricar, conservar, embalar, e assim por diante. Nesta busca de aperfeiçoamento da qualidade, fez cursos de vários tipos, desde aqueles oferecidos por grandes fornecedores e revendedores de chocolate em barra até cursos tipicamente voltados para donas de casa.
Desafio e crescimento
Um momento difícil para a empresa ocorreu no verão de 1992. Como é natural e ocorre em todos os verões com produtos à base de chocolate, a venda dos produtos da marca caiu acentuadamente. O produto parou de rodar no ponto de venda e, devido à sua curta vida útil, começou a estragar.
Todos os produtos deteriorados foram trocados sem qualquer ônus para o varejista. Até aí era uma situação tradicional de verão, quando frequentemente é necessário "colocar dinheiro" na empresa. Foi então que a crise se instalou, porque não havia caixa suficiente para cobrir as despesas.
Ao invés de lamentar ou contrair empréstimos para cobrir despesas, o fundador buscou oportunidades de longo prazo. Como o fim do ano se aproximava, comprou uma máquina para fazer panetones, montou quiosques em feiras de Natal para oferecer não só seus chocolates, mas também produtos adequados à temperatura do verão, como salgadinhos e sucos, adquiridos de terceiros.
Ou seja, quando a situação de seus produtos se complicou, a empresa mudou, rápida e temporariamente sua oferta ao mercado para poder suprir os problemas e sair em boas condições.
A primeira loja da Cacau Show foi construída no final de 2001, na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, e o negócio cresceu rapidamente. No ano seguinte, eram 18 pontos de venda padronizados com a marca da empresa. Logo depois, 46 e, na sequência, 130. Mais um ano, e totalizavam 230 unidades, o que já fazia da Cacau Show a maior rede de chocolates finos do Brasil em número de lojas.
Em 2005, Alexandre foi condecorado com o prêmio "Melhor Franquia do Ano", na categoria Cafeteria e Confeitaria, concedido pela Editora Globo em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. Possui o Selo de Excelência em Franchising 2008-2009, um aval da principal entidade do setor sobre a sua real capacidade de praticar o sistema de franchising. As normas são impostas pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), como instituição que reúne, no âmbito nacional, todas as principais empresas que trabalham com franquia.
Em 2008, a Cacau Show ultrapassou a norte-americana Rocky Mountain e se tornou a maior rede de lojas de chocolates finos do mundo. A fábrica, instalada em Itapevi, na Região Metropolitana de São Paulo, em 2006, possui 18 mil metros quadrados e produz 250 tipos de produtos. Mas, com o crescimento constante, quase não basta para o tamanho da empresa. Por isso, Costa investiu R$ 20 milhões na ampliação da fábrica.
Atualmente, são cinco fábricas com capacidade de produzir 12 mil toneladas de chocolates. Além de Itapevi, as outras unidades estão instaladas na capital paulista, em Campos de Jordão, Linhares, no Espírito Santo, e em Curitiba, no Paraná.
Ao completar 20 anos, em 2008, Alexandre Costa lançou o livro "O Cacau é Show - Deliciosas Histórias do Mundo do Chocolate" a partir de uma viagem pela Rota do Cacau, passando por Linhares, Ilhéus, na Bahia, e Pará.
Acompanhado de uma equipe para documentar o percurso, Costa percorreu 5 mil quilômetros de rios, asfalto e poeira, para mostrar quem cultiva esse fruto tão sedutor. "Foi, sem dúvida, um dos momentos mais emocionantes do trabalho. Fomos colecionando histórias e personagens, gente que nos recebeu de braços abertos e cuja comovente simplicidade e dedicada labuta nas plantações de cacau nos ensinaram a valorizar ainda mais o produto final, que nós bem conhecemos: o chocolate", conta Costa.
Além de tudo isso, o livro possui um capítulo especial. Trata-se de um pequeno almanaque do chocolate, de leitura rápida e agradável, que conta curiosidades que todo mundo tem vontade de saber, mas não sabe ao certo a quem perguntar. E, para finalizar a edição, foram publicadas receitas simples e deliciosas, que o leitor poderá tentar produzir na própria cozinha.
Sustentabilidade e social
A trajetória da Cacau Show é marcada por uma combinação de crescimento acelerado e responsabilidade socioambiental. A empresa adotou práticas sustentáveis em sua cadeia produtiva, como o modelo tree to bar, que garante rastreabilidade e qualidade do cacau desde a origem até o produto final. Além disso, estabeleceu parcerias com produtores locais e instituições para promover uma produção mais ética e sustentável.
No âmbito social, o Instituto Cacau Show lidera iniciativas como a "Páscoa do Bem", que distribui ovos de Páscoa para instituições sociais em todo o país, reforçando o compromisso da marca com a transformação social e o impacto positivo nas comunidades onde atua.
Diversificação do portfólio e construção do ecossistema
Alê Costa diversificou o varejo, estruturando uma rede de franquias moderna e focada na experiência do cliente. Mas o empreendedorismo não se limitou a um setor e, hoje, o empresário comanda um ecossistema de negócios em torno do seu core business: o cacau.
Nas lojas, o consumidor encontra uma variedade de linhas de produtos, como:
- LaCreme: chocolate ao leite e textura cremosa;
- Bendito Cacao: alto teor de cacau e sabor intenso;
- LaNut: combinação de chocolate com creme de avelã;
- Dreams: ovos de páscoa de diversos sabores;
- Biscoiteria: linha premium de biscoitos e cookies;
- Chocomonstros: personagens infantis proprietários, vendidos em combos com chocolate e itens colecionáveis;
- Bless: linha de chocolates zero açúcar.
Em 2024, a Cacau Show lançou uma linha de tênis e acessórios infantis em parceria com a Pampili, inspirada na coleção Chocomonstros.
Além das trufas tradicionais - comercializadas em mais de 25 sabores -, a empresa acompanha o calendário de datas comemorativas com itens e embalagens especiais, como caixa porta-jóias, barras de chocolate com mensagens, entre outras centenas de produtos de chocolates finos artesanais, fondue, café, chás e cookies e gelatos que garantem o sucesso da Cacau Show. Vale destacar ainda a Páscoa e o Natal, os dois períodos de maior venda para a marca.
Em relação às franquias, a Cacau Show opera com 5 tipos de lojas com investimento a partir de R$ 114 mil. Sãs elas: Loja Intensidade, Loja Samart Intensidade, Quiosque Premium, Quiosque Express e Loja Contâiner.
Ao todo, são 4.671 unidades espalhadas por todo o Brasil, número que consolida a marca como a maior rede de franquias do Brasil em 2025. Com um crescimento de 10,6% em relação a 2024, a Cacau Show também liderou o faturamento no setor de foodservice, alcançando R$ 6,26 bilhões em receitas provenientes de lojas próprias e franqueadas.
A Cacau Show possui, ainda, dois outros negócios: a Peti Deli, uma linha especial de doces finos que acabou viralizando em cerimônias de casamento, e a Brigaderia, adquirida pelo grupo e que já conta com 10 lojas proprietárias. A empresa também vende para eventos.
Hospitalidade e entretenimento
A Cacau Show abriu dois resorts temáticos, batizados de Bendito Cacao Resort & Spa em Campos do Jordão e Águas de Lindóia.
Também entrou no ramo do entretenimento ao adquirir a marca Playcenter, composta pelos parques indoor. O primeiro empreendimento inaugurado após a aquisição pelo Grupo foi o parque do Shopping Plaza Santo André. Outra unidade está prevista para o Shopping Plaza Tietê em São Paulo.
Mas o parque dos sonhos ainda está por vir. Chamado de Cacau Park, o parque temático da Cacau Show será construído em Itú, no interior de São Paulo, em uma área de 7 milhões de metros quadrados. Com investimento estimado em R$ 2 bilhões, contará com 35 atrações.
O espírito empreendedor de Alexandre Costa, presidente da empresa, tornou a marca referência no mercado nacional. Para o francês Fabrice Lenud, um dos mais consagrados pâtissiers do Brasil, Costa é o "Bill Gates do chocolate".
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