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A nova moeda da gastronomia é a experiência sensorial

O consumidor, hoje, anseia por contexto, pertencimento e memórias

A nova moeda da gastronomia é a experiência sensorial
Isaac Paes Publicado em 22 de Agosto de 2025 às, 10h55. Atualizado em 22 de Agosto de 2025 às, 10h58.

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Imagine duas pizzarias na mesma rua. Ambas servem uma pizza napolitana excepcional, com massa de longa fermentação, molho de tomate e mussarela frescos. Na primeira, as luzes são brancas e fortes, o som é o eco das conversas misturado ao zumbido de uma geladeira e o cardápio é uma folha de papel plastificada. Você come uma pizza deliciosa, paga a conta e vai embora.

Na segunda, você entra e sente o aroma suave de lenha queimando no forno. A iluminação é baixa e quente, destacando as paredes de tijolo aparente. Uma playlist de jazz suave toca ao fundo. O cardápio está em um tablet com fotos que fazem cada ingrediente saltar aos olhos. Você não apenas come uma pizza, você vive uma experiência completa. Qual das duas pizzarias têm mais chance de ficar na sua memória e se tornar o seu lugar preferido?

Essa pergunta não é mais um mero detalhe. Para se ter uma ideia, no Brasil, essa tendência também é bastante forte: 68% dos consumidores afirmam que experiências personalizadas influenciam significativamente as suas decisões de compra, de acordo com o estudo CX Trends 2025, da Octadesk e Opinion Box. O consumidor moderno não busca apenas nutrir o corpo, ele anseia por contexto, por pertencimento e, acima de tudo, por memórias. Em um mercado onde a qualidade dos insumos se tornou mais acessível, a verdadeira diferenciação não está mais apenas no prato, mas no ecossistema de sensações que o envolve.

É isso que chamamos de experiência sensorial: a orquestração deliberada dos cinco sentidos para transformar uma simples refeição em um evento memorável. A visão é o primeiro e mais óbvio ponto de contato. A beleza de um prato bem montado, a harmonia da decoração, a clareza de um cardápio visualmente rico. Tudo isso molda a expectativa antes mesmo da primeira garfada. Quando o cliente vê uma foto vibrante do seu prato, o cérebro já começa a “saboreá-lo”.

Em seguida, vem o olfato, talvez, o gatilho mais poderoso da memória. O cheiro de pão fresco saindo do forno, o aroma do café moído na hora ou uma assinatura olfativa única no ambiente criam uma âncora emocional profunda, transportando o cliente para um estado de conforto e apetite.

A audição dita o ritmo da experiência. Uma música ambiente acelerada e um volume mais alto podem estimular a rotatividade em um restaurante de almoço executivo. Já uma trilha sonora calma e um bom tratamento acústico convidam  à permanência, ao consumo de uma sobremesa, de mais uma taça de vinho. O som da coqueteleira sendo agitada ou da carne selando na chapa pode, inclusive, fazer parte do espetáculo.

Não podemos subestimar o tato. A sensação de segurar um talher pesado, o conforto de uma cadeira estofada, a textura de um guardanapo de linho ou até o toque suave e responsivo na tela de um cardápio digital contribuem para uma percepção de qualidade e cuidado que permeia toda a experiência.

Quando todos esses sentidos estão alinhados, eles potencializam o paladar. Um ambiente agradável pode, de fato, fazer a comida parecer mais saborosa. A experiência sensorial não compete com a comida, ela a eleva.

E qual o impacto disso no negócio? Direto e mensurável. Restaurantes que investem em uma ambientação coesa e, principalmente, em ferramentas que aprimoram a jornada sensorial do cliente, colhem resultados significativos. Não é por acaso que operações que adotam cardápios digitais e sugestões inteligentes relatam aumentos no ticket médio que variam de 10% a 40%, conforme levantamento da Goomer. O estímulo visual incentiva o cliente a experimentar um drink diferente, adicionar um ingrediente extra ou se render à sobremesa. A autonomia se transforma em descoberta.

Longe de ser um elemento frio e impessoal, a tecnologia, quando bem integrada, funciona como uma poderosa amplificadora sensorial. Um cardápio de papel mal impresso e manchado pode quebrar todo o encanto construído pela decoração e pela música. Por outro lado, uma interface digital fluida e visualmente deslumbrante se torna mais uma camada de deleite na experiência do cliente.

A vanguarda do setor já explora o próximo passo: transformar esses pontos de contato digitais em canais de mídia e entretenimento, com conteúdos interativos e gamificados que engajam o cliente de forma ainda mais profunda.

No fim das contas, a comida excelente continua sendo o pilar de qualquer bom restaurante. Mas os pilares, sozinhos, não constroem um templo. Para conquistar o cliente de hoje e garantir a sua lealdade amanhã, é preciso construir uma catedral de sensações. A nova moeda da gastronomia não é apenas o sabor, é a memória que você cria.

Isaac Paes é CMO da Goomer

*O artigo publicado não reflete, necessariamente, a visão do Portal Sua Franquia, sendo de expressa responsabilidade da autora.
Imagem: Freepick (gerada com IA)

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